quarta-feira, 16 de outubro de 2019

NUMA GRANDE TORCIDA PELO IMPEACHMENT DE TRUMP


Trump cada vez mais encrencado

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Dia após dia, surgem fatos novos que tornam cada vez mais jus­ti­fi­cado o im­pe­a­ch­ment do pre­si­dente Do­nald Trump.
A de­núncia anô­nima de ofi­cial de in­te­li­gência, acu­sando The Do­nald de ter num te­le­fo­nema pres­si­o­nado o pre­si­dente da Ucrânia a in­ves­tigar su­postas ma­ra­cu­taias de Joe Biden, seu pro­vável ad­ver­sário nas elei­ções pre­si­den­ciais, chocou a nação. Ficou óbvio o ob­je­tivo de pre­ju­dicar elei­to­ral­mente o de­mo­crata.
Até mesmo o Par­tido Re­pu­bli­cano sentiu o golpe. De ime­diato, três se­na­dores, um go­ver­nador e di­versos re­pre­sen­tantes re­pu­bli­canos de­mons­traram pre­o­cu­pação e al­guns até re­pulsa ao mau com­por­ta­mento pre­si­den­cial.
Por seu lado, Trump me­nos­prezou a de­núncia. Ri­di­cu­la­rizou o de­nun­ci­ante, cha­mando-o de “quase um es­pião”. “Vocês sabem o que nós cos­tu­má­vamos fazer nos ve­lhos tempos, quando éramos es­pertos?”, per­guntou o pre­si­dente. “Nós cos­tu­má­vamos tratá-lo de um modo di­fe­rente do que se faz hoje”.
Não es­pe­ci­ficou qual o tra­ta­mento apli­cado nos “ve­lhos tempos”. Du­rante a guerra mun­dial, era a forca. Já os “es­pertos” da máfia pre­fe­riam prender os pés dos es­piões em blocos de ci­mento e atirá-los no rio Hudson.
In­di­fe­rente a essas re­fle­xões his­tó­ricas, os par­la­men­tares de­mo­cratas e a im­prensa exi­giram a pu­bli­cação do texto da con­versa te­lefô­nica de­nun­ciada.
For­çada por esse ruído que já con­ta­mi­nava a opi­nião pú­blica, Trump en­tregou à co­missão de inqué­rito da Casa dos Re­pre­sen­tantes, não uma trans­crição fiel das pa­la­vras dele e do seu in­ter­lo­cutor. Apenas um re­sumo ela­bo­rado pelo pes­soal da Casa Branca.
Não dá para acre­ditar que fun­ci­o­ná­rios do pre­si­dente ti­vessem man­tido os tre­chos mais des­con­for­tá­veis do diá­logo com Ze­lensky, o man­da­tário ucra­niano. No en­tanto, os fatos con­tidos no re­sumo já eram su­fi­ci­entes para ca­rac­te­rizar in­fra­ções graves.
Fi­cava claro que The Do­nald so­li­ci­tara a Ze­lensky que in­ves­ti­gasse a in­fluência de Biden, em 2014 (quando vice de Obama), na de­missão do pro­cu­rador-chefe ucra­niano, um duro crí­tico da em­presa Bu­risma, na qual um filho do ex-vice-pre­si­dente in­te­grava a di­re­toria.
O pro­blema é que as even­tuais ma­ra­cu­taias de Biden na Ucrânia não eram da conta dos EUA, eram ques­tões par­ti­cu­lares do país onde te­riam sido co­me­tidas.
A in­ge­rência de Do­nald Trump foi, assim, um des­res­peito à so­be­rania de uma nação es­tran­geira. Muito chato para os EUA, que já foram pre­si­didos por fi­guras como Ge­orge Washington, Abraham Lin­coln e Fran­klin Ro­o­se­velt.
Es­cla­reça-se que há ra­zões para supor que Biden agira cor­re­ta­mente, em­bora também existam al­guns fatos incô­modos, que ainda pre­cisam ser ex­pli­cados.
Mesmo que ja­mais o sejam, nada têm a ver com as di­a­bruras de Do­nald Trump. Para o di­reito norte-ame­ri­cano é ina­cei­tável que um pre­si­dente use seu cargo para forçar o pre­si­dente de um país amigo a agir em be­ne­fício da von­tade do mo­rador da Casa Branca de pre­ju­dicar um pos­sível ad­ver­sário na pró­xima eleição.
Tem mais
The Do­nald es­queceu seu Amé­rica, first por um Trump, first. A de­núncia ori­ginal contém mais al­guns fatos graves não men­ci­o­nados pelo re­sumo made in Casa Branca.
Ela fora en­tregue ao chefe do de­nun­ci­ante que levou a seu su­pe­rior, o di­retor na­ci­onal de in­te­li­gência, Jo­seph Ma­guire. De­pondo no Con­gresso, Ma­guire disse que blo­queou seu envio ao Con­gresso, como seria o es­ta­be­le­cido por lei, e o ar­quivou no mais ina­ces­sível sis­tema, so­mente uado para os casos par­ti­cu­lar­mente sen­sí­veis à se­gu­rança na­ci­onal. Jus­ti­ficou-se: “era ab­so­lu­ta­mente sem pre­ce­dentes”.
Não dei­xava de ser, como a de­núncia fartou-se de com­provar. Uma se­mana antes do te­le­fo­nema fatal, Trump mandou sus­pender uma do­ação de 400 mi­lhões de dó­lares em armas para o exér­cito ucra­niano.
Pre­o­cu­pado com esta de­cisão, Ze­lensky deve ter per­ce­bido que Trump fa­lava sério ao pedir (oito vezes, se­gundo o Wall Street Journal) que o ucra­niano o aju­dasse a co­locar o ad­ver­sário Biden numa fria.
Pa­rece que ele deve ter sido efu­sivo ao aceitar as pre­ten­sões do co­lega es­ta­du­ni­dense. Al­guns tempo de­pois da con­versa, o go­verno de Washington mandou li­berar os 400 mi­lhões re­tidos.
Trump ex­plicou a razão da sus­pensão ini­cial, através de vá­rias ver­sões di­fe­rentes:
– ficou na dú­vida se a ajuda seria van­ta­josa para os EUA;
– de­nún­cias adi­ci­o­nais de cor­rupção na Ucrânia o le­varam a achar que o novo go­verno talvez não me­re­cesse a do­ação;
– foi uma re­ação de ir­ri­tação de­vido à es­cassa con­tri­buição alemã à Ucrânia.
Essa de­so­ri­en­tação su­gere que nada disso é ver­dade, o ver­da­deiro pro­pó­sito da de­cisão deve ter sido outro.
Nar­ramos a se­guir fatos que po­de­riam des­lindar o mis­tério. Se­gundo o de­nun­ci­ante, The Do­nald disse para Ze­lensky reunir-se com seu ad­vo­gado pes­soal, Rudy Giu­liani, e o pro­cu­rador geral dos EUA, Wil­lian Barr, para le­van­tarem pe­cados de Biden.
Sa­tis­feito com a pronta adesão do ucra­niano, Trump lhe in­formou: “Vou mandar o sr. Giu­liani lhe te­le­fonar e também te­remos na reu­nião o pro­cu­rador geral Barr e assim iremos até o fim nesta questão (o af­fair Biden)”.
Talvez di­ante da boa von­tade de Ze­lensky, o pre­si­dente norte-ame­ri­cano lhe as­se­gurou aus­pi­ci­osas re­tri­bui­ções: “a sua eco­nomia vai ficar cada vez me­lhor, eu pre­digo”. Os 400 mi­lhões de dó­lares em breve es­ta­riam nas mãos ucra­ni­anas para nin­guém em Kiev con­ti­nuar com uma pulga atrás da orelha.
Note-se que neste epi­sódio acon­teceu mais uma in­fração: o pre­si­dente re­pu­bli­cano pôs seu pro­cu­rador-geral (pago pelos con­tri­buintes) para prestar ser­viço num as­sunto do in­te­resse não dos EUA, mas so­mente dele.
Mais uma vez o ide­o­ló­gico, Ame­rica, first foi subs­ti­tuído pelo ego­cên­trico Trump, first.
A trama
Essa cons­ta­tação foi re­for­çada de­ci­si­va­mente pelas re­ve­la­ções de Kurt Volker, en­viado es­pe­cial do go­verno dos EUA à Ucrânia.
Volker de­mitiu-se pouco de­pois da pu­bli­cação da de­núncia anô­nima. Em de­poi­mento à co­missão de inqué­rito da Casa dos Re­pre­sen­tantes, ele en­tregou de­zenas de men­sa­gens de texto al­ta­mente in­con­ve­ni­entes para Trump.
Por ordem do pre­si­dente, ele se unira a dois ou­tros di­plo­matas: Gordon Son­dland, em­bai­xador em Kiev, cre­den­ciado por vastas do­a­ções à cam­panha pre­si­den­cial, e Wil­liam Taylor, re­pre­sen­tante dos EUA na União Eu­ro­peia - da qual, aliás, a Ucrânia não faz parte.
Este grupo re­cebeu or­dens do chefe para au­xi­liar seu ad­vo­gado Rudy Giul­liani, es­ca­lado para con­se­guir provas da su­posta cor­rupção do ex-vice de Ba­rack Obama.
Es­tava pla­ne­jada uma vi­sita do pre­si­dente ucra­niano à Casa Branca, com o ob­je­tivo de apre­sentar ao go­verno norte-ame­ri­cano uma série de im­por­tantes rei­vin­di­ca­ções do seu país.
De acordo com as trocas de men­sa­gens entre os três di­plo­matas, eles dei­xaram claro a Yermak, re­pre­sen­tante de Ze­lensky, que a vi­agem do pre­si­dente só teria êxito se ele in­ves­ti­gasse pos­sí­veis su­jeiras do pré-can­di­dato de­mo­crata em be­ne­fício da Bu­risma, em­presa que con­tra­tara o filho, Hunter, para fazer lobby nos EUA.
Em 4 de ou­tubro, The Do­nald con­tri­buiu para pi­orar sua si­tu­ação no pro­cesso do im­pe­a­ch­ment, ao so­li­citar à China, pu­bli­ca­mente, que também in­ves­ti­gasse as ações de Biden e filho.
Se­quelas
Di­ante de uma cor­rente, que ameaça tornar-se ava­lanche, The Do­nald vem re­a­gindo de forma, di­gamos, tosca.
Ga­rante que o te­le­fo­nema fora “per­feito”. Que os de­mo­cratas es­tavam pro­mo­vendo uma “caça às bruxas”. Que eles que­riam um golpe de Es­tado.
Que tirar Tump do go­verno po­deria di­vidir a nação como na Guerra Civil (de 1860-1864). Que as ale­ga­ções contra ele não pas­savam de “merda”. Que o de­mo­crata Adam Shift, pre­si­dente de um dos co­mitês de in­ves­ti­gação, devia, ora ser ex­pulso da Casa dos Re­pre­sen­tantes, ora ser preso.
Nada que jus­ti­fi­casse seus atos al­ta­mente dis­cu­tí­veis, que podem levar ao im­pe­a­ch­ment.
E o que é pior, ele pa­rece de­ses­pe­rado, re­cen­te­mente afirmou que não queria pres­si­onar Ze­lensky, mas Perry, seu se­cre­tário de Energia, in­sistiu e ele acabou ce­dendo. Aí, deu no que deu.
Perry não en­goliu, apressou-se a de­clarar que acon­se­lhara o pre­si­dente a apenas dis­cutir ques­tões ener­gé­ticas com Ze­lensky, ja­mais disse que o ucra­niano de­veria ser aper­tado contra a pa­rede.
A coisa fica feia quando o chefão joga as culpas das suas fa­lhas para cima dos su­bor­di­nados.
Como in­forma o The Hill de 8 de ou­tubro, o Par­tido Re­pu­bli­cano sente-se acuado.
Al­guns dos seus mem­bros ainda de­fendem seu chefe, ou­tros de­ploram quando não cri­ticam seu pro­ce­di­mento pouco acei­tável.
A mai­oria está em si­lêncio, teme pelo pior, por novas sur­presas as­sus­ta­doras.
Esta visão ne­ga­tiva é ra­ti­fi­cada pelas pes­quisas sobre a po­sição do povo. Em 27 de se­tembro, o NPR-PBS News Hour-Ma­rist apon­tava a vi­tória da apro­vação do im­pe­a­ch­ment por 49 versus 46.
Em 1 de ou­tubro, a Mon­mouth Uni­ver­sity apurou que 53% dos norte-ame­ri­canos de­sa­pro­vavam a per­for­mance do pre­si­dente, en­quanto apenas 41% a con­si­de­ravam ok.
E, numa prova de que o sen­ti­mento pró-im­pe­a­ch­ment vem cres­cendo rá­pido, pes­quisa USA Today/Ipsos re­ve­lava que a di­fe­rença entre aqueles que aprovam e os que de­sa­pro­vavam evo­luíra para 8%.
E deve ace­lerar ainda mais, pois An­drew Bakaj, ad­vo­gado do de­nun­ci­ante anô­nimo, tuitou em 7 de ou­tubro que seu cli­ente irá depor em breve. E foi além: afirmou que re­pre­sen­tava di­versos ofi­ciais de in­te­li­gência dis­postos a contar o que sa­biam sobre o caso.
Como é sa­bido, o im­pe­a­ch­ment deve passar na Casa dos Re­pre­sen­tantes, onde a opo­sição de­mo­crata tem mai­oria. Para ser pro­mul­gado é ne­ces­sário também o voto fa­vo­rável do Se­nado, do­mi­nado pelos re­pu­bli­canos. Nor­mal­mente, eles de­verão dar o contra. E o feliz es­poso da ma­ra­vi­lhosa Me­lanie po­deria con­ti­nuar bra­va­te­ando na Casa Branca.
Há quem ad­mita o con­trário. Ar­gu­menta-se que, ha­vendo uma enorme massa de es­ta­du­ni­denses ra­di­cal­mente a favor do cas­tigo ao pre­si­dente, seus adeptos irão roer a corda, deixar o chefe na mão. Dar uma ba­nana para o clamor po­pular é pe­ri­goso e eles pre­cisam pensar nas suas car­reiras po­lí­ticas.
Pos­sível, mas im­pro­vável. Mesmo es­ca­pando do im­pe­a­ch­ment, The Do­nald po­derá sair ir­re­pa­ra­vel­mente man­chado e se tornar um out­sider nas pró­ximas elei­ções pre­si­den­ciais.
A in­ves­ti­gação do im­pe­a­ch­ment está an­dando com uma ve­lo­ci­dade fora do comum.
A dis­cussão final de­verá co­meçar ainda antes do fim do ano. No co­meço da es­tação fria que, para o pre­si­dente, po­derá marcar o in­verno de sua de­ses­pe­rança.

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