Enquanto Sérgio Cabral degusta camarão na cadeia, servidores do RJ comem ‘pão que diabo amassou’
Camarão, queijo francês, presunto de Parma, castanha, bolinho de bacalhau, iogurte... Na cela do ex-governador Sérgio Cabral, dentro da cadeia José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio, os promotores do Ministério Público encontraram, na última sexta-feira (dia 24), um cardápio com tudo do bom e do melhor. Já em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, o menu da pensionista da PM Alessandra Fernandes Givaldi, de 43 anos, é bem diferente: tem somente arroz, feijão e carne moída, às vezes substituída por carne de hambúrguer ou ovos. Enquanto Cabral passa bem atrás das grades, servidores, pensionistas e aposentados afetados pela crise do estado “comem o pão que o diabo amassou”.
— Mesmo preso, ele (Cabral) só come coisa boa. E eu, aqui em casa, passando necessidade... É um deboche! — desabafa Alessandra, com a despensa e a geladeira praticamente vazias.
A pensão de R$ 2.705 — que, com descontos do empréstimo consignado, caiu para R$ 1.846 —, vem sendo paga com atraso desde fevereiro e é corroída por dívidas que somam cerca de R$ 15 mil. O que sobra mal dá para a alimentação e os remédios.
— Cortei itens necessários à minha saúde porque falta dinheiro para comprar tudo que preciso — conta Alessandra.
A servidora da Faetec Gilda Fontes, de 54 anos, com salários em atraso desde setembro, também entrou numa dieta forçada à base de arroz, feijão, frango e peixe, “porque são mais em conta”. A carne, a Nutella e o Ovomaltine, que a filha adolescente adora, ela deixou de comprar faz tempo.
— É uma falta de respeito com quem trabalha! — disse, sobre o privilégio de Cabral.
‘Parma? Nunca vi nem comi, só ouço falar’
A última vez que Marilda dos Anjos Reis, de 68 anos, viu a cor de seu dinheiro, fruto do vencimento de R$ 2.250 como laboratorista da Uerj, foi em setembro. A servidora, que cria quatro netos com idades entre 11 e 13 anos, considerou humilhação com o funcionalismo público a regalia de Sérgio Cabral na prisão. No cardápio dela só entram arroz, feijão e ovo.
Mesmo vivendo de ajuda, a moradora de Santa Cruz, na Zona Oeste, não perde o bom humor. Perguntada se já provou do queijo francês e do presunto de Parma, achados na cela de Cabral, ela brincou:
— Parma? Estou igual a Zeca Pagodinho: “nunca vi nem comi, só ouço falar”... Camarão, só como quando ganho de um amigo pescador, de Maricá.
Visitas na prisão
Na manhã deste sábado (dia 25), Sérgio Cabral recebeu visita na cadeia, assim como a ex-governadora Rosinha Garotinho e o presidente afastado da Alerj, Jorge Picciani: o deputado federal Marco Antônio Cabral, a secretária municipal de Desenvolvimento, Emprego e Inovação do Rio Clarissa Garotinho e o deputado estadual Rafael Picciani foram ver seus respectivos pais. Felipe Picciani, irmão de Rafael, também está detido ali.
JORNAL EXTRA
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